As mulheres negras na produção de conhecimento de resistência no Brasil

  • Maria Julia Rodrigues Moreira
  • Monique Soares Vieira
Rótulo Mulheres, negras, interseccionalidade, feminismo, negro

Resumo

O presente trabalho busca evidenciar as contribuições de escritoras negras brasileiras para a análise dos sistemas de opressão na realidade social do Brasil. A pesquisa teve como objetivo central identificar quem são as principais vozes negras e femininas no Brasil que produzem saberes sobre as opressões, a fim de valorizar perspectivas descolonizadoras do saber, do ser e do poder e, assim enfrentar o apagamento de saberes embasados nas experiências reais das mulheres negras e demais grupos sociais oprimidos. Para tanto, foi produzido um mapeamento das obras, autoras e perspectivas analíticas. A coleta de dados foi realizada através de pesquisa bibliográfica, de 06 de dezembro a 07 julho de 2022, tendo como principais critérios: saberes produzidos nas Ciências Sociais e Humanas (teses e dissertações), publicados nos últimos dez anos (2011 2021), em português. As fontes de acesso utilizadas foram o Banco de Teses da Capes e a Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (Bdtd), os descritores consistiram em mulheres negras; interseccionalidade e feminismo negro. O Currículo Lattes também foi usado para buscar informações mais específicas. Das 46 teses e dissertações encontradas, cerca de 73, 9% foram escritas por autoras negras, enquanto 19, 6% tiveram a autoria de mulheres brancas; 2,2% dos resultados foram produzidos por homens brancos, mesma porcentagem encontrada em autores negros e indígenas. A faixa etária das 34 autoras negras analisadas, em sua maioria (cerca de 67,6%) é de 30 a 50 anos. De acordo com o levantamento, a maioria das autoras provém das regiões Sul, Sudeste e Nordeste (26,7% em cada). Já quando se trata da região de formação, 46,9% realizaram pelo menos uma graduação na região Nordeste, 25% no Sudeste, 18,8% no Sul e 9,4% na região Centro-oeste. Das produções analisadas, 24 foram dissertações e 10 teses e pode-se notar um aumento de defesas a partir de 2018 (23,5%), e 2019 (20.6%), 2020 (23,5%) e 2021 (17,6%) em relação aos anos menos produtivos de 2017 (8,8%) e 2015 e 2012 ambos com 2,9%. Pode-se perceber que dentro da grande Área das Ciências Humanas e Sociais, há uma gama extensa de cursos e profissões seguidas pelas autoras. Das 34 pesquisadoras, 13 são professoras universitárias, ativas tanto no Brasil, quanto fora dele. Suas formações variam: advogadas, assistentes sociais, psicólogas, jornalistas, algumas que inclusive registram outras atividades no currículo que conciliam com a vida acadêmica e profissional. São percussionistas, poetas, musicistas e doulas. Suas formações abrangem desde mestrado em História do Brasil a doutorado em Estudos Interdisciplinares sobre mulheres, Gênero e Feminismo. A sociologia, a Geografia, a antropologia, psicologia social, comunicação social, políticas sociais e cidadania, os direitos humanos, Educação, Letras, Direito público são as áreas específicas para as quais as autoras têm focado. Em uma perspectiva ainda mais crítica, pode-se observar o quanto suas profissões voltam-se para questões muitas vezes inviabilizadas, como por exemplo, as relações étnicas com enfoque interdisciplinar sobre mulheres, gênero e feminismo, e a formação de professores para a educação escolar quilombola e a subjetividade da mulher negra. O debate sobre a intersecção entre gênero, raça e classe tem como principal objetivo apreender os sistemas de dominação presentes na sociedade atual. Serão essas opressões, articuladamente, que irão criar as condições de vida das mulheres negras. Por isso, há necessidade de aprendê-las, não de forma isolada ou hierarquizada, mas em um entrelaçamento que é complexo, em que raça, gênero e classe não são apenas diferenças sociais, mas diferenciações produzidas pelas estruturas de dominação. Interpelar esses padrões e reconhecer o trabalho intelectual de escritoras negras brasileiras na discussão sobre desigualdades e opressões é crucial para a construção do pensamento crítico e de conhecimentos posicionados em defesa da democracia e da justiça social.

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Publicado
2022-11-23
Como Citar
JULIA RODRIGUES MOREIRA, M.; SOARES VIEIRA, M. As mulheres negras na produção de conhecimento de resistência no Brasil. Anais do Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão, v. 2, n. 14, 23 nov. 2022.