ATAQUE A VIDA DE CRISTINA KIRCHNER E SEUS DESDOBRAMENTOS

Resumo

Em primeiro de setembro de 2022, a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, sofreu uma tentativa de assassinato enquanto voltava para o edificio onde mora em Buenos Aires. É importante salientar o cenário interno que a Argentina tem nos últimos anos. Há uma crescente radicalização e polarização dentro do país, Cristina Kirchner é alvo de acusações de corrupção com promotores enviando um pedido à Justiça para a prisão da ex-presidente por 12 anos, bem como seja impedida de ocupar cargos públicos. Ademais, a icônica figura da vice-presidente divide a opinião pública, sendo de um lado os que a apoiam veementemente e aqueles que a desprezam. Diante dos recentes acontecimentos envolvendo escândalos econômicos e políticos dentro da Argentina, esta pesquisa tem por objetivo principal evidenciar os desdobramentos do atentado contra a vida da vice-presidente, Cristina Kirchner, no que tange ao âmbito nacional e internacional. Os objetivos específicos são: i) identificar as formas de resposta do povo Argentino ao atentado; ii) compreender os desdobramentos políticos internos; iii) verificar as reações internacionais a respeito deste acontecimento. Justifica-se a elaboração desta pesquisa devido a necessidade de compreensão dos fatos ocorridos na Argentina pelo meio acadêmico, bem como pela crescente polarização nacional que desencadeia violência política - fatos com relativa similaridade com os que ocorrem no Brasil. Quantos aos procedimentos metodológicos empregados são caracterizados por sua natureza qualitativa, descritiva e exploratória, utilizando dados de fontes jornalísticas nacionais e internacionais, bem como análises de especialistas da área. Nesta pesquisa, por trabalhar com o tempo presente e estar em andamento, assume que os resultados são parciais e podem sofrer transformação com o tempo. Desse modo, em primeiro lugar, é importante ressaltar que ainda que os indícios apontem que a tentativa de assasinato tenha ocorrido em decorrência da violência verbal crescente por parte de opositores, a grande maioria dos inimigos políticos da vice-presidente, condenaram o atentado contra a vida de Cristina Kirchner. Por sua vez, o atual presidente, Alberto Fernández, realizou um pronunciamento em cadeia nacional, apontando inimigos, os quais, segundo o mandatário, estariam por trás do ataque contra sua vice, sendo estes os elencados: a imprensa, a Justiça, e a oposição. Sob este cenário, a oposição recuou em relação aos ataques proferidos contra Cristina tanto, em respeito a institucionalidade democrática quanto no intuito de não encorajar mais atentados como este. Dessa forma, pode-se observar que a situação é similar à do Brasil pós-atentado a Bolsonaro, visto que enquanto estava internado, os opositores não puderam atacá-lo, contribuindo assim, para a sua vitória. Tal fato é de suma importância levando em consideração que diversos analistas políticos apontam que Cristina muito provavelmente buscará a candidatura em 2023, observando com grande interesse as eleições em outubro de 2022 no Brasil, uma vez que, em caso de vitória do candidato de esquerda, Luís Inácio Lula da Silva, ela encontrará mais um apoiador na região. Em segundo lugar, em relação ao nível doméstico, pode-se identificar que é improvável que o atentado leve a uma guinada no processo de radicalização dentro do país ou a um movimento de apaziguamento, ao contrário, diversas manifestações foram realizadas após o atentado. Outro dado importante a enfatizar é que, segundo uma pesquisa realizada no país, consultando mais de 250 mil argentinos, 66,44% não acreditam que Cristina tenha sofrido um atentado real, mas que tudo teria sido uma armação. Em terceiro lugar, em relação à repercussão na Comunidade Internacional, diversos líderes expressaram tanto por meio de suas redes sociais quanto por outros meios, à solidariedade a Cristina Kirchner, sendo alguns deles os presidentes de Cuba, Bolívia, Brasil, Chile e Espanha. Destarte, a situação política e social da Argentina, no que diz respeito aos desdobramentos do atentado à vida de Cristina Kirchner, propiciaram uma posição favorável quanto aos processos jurídicos internos enfrentados pela vice-presidente, visto que há uma dispersão de atenção por algum tempo. Contudo, este cenário, se prolongado, torna perigoso para Kirchner, uma vez que a extrema vitimização e a propagação de um discurso de ódio contra seus opositores pode tornar a questão negativa, levando até a perda de apoio da base aliada ao governo.