A ESTIMULAÇÃO DO LOCUS COERULEUS APÓS O APRENDIZADO PROMOVE A PERSISTÊNCIA DA MEMÓRIA DE RECONHECIMENTO DE OBJETOS EM RATOS
Rótulo
Cérebro, Consolidação, Modulação, Dopamina, Noradrenalina
Resumo
A memória consiste na capacidade que o cérebro possui de adquirir, armazenar e recuperar informações. No momento de formação das memórias de longa duração, ocorre uma série de ativações bioquímicas, que envolvem a ação de, entre outros processos, receptores e neurotransmissores específicos. Para que uma memória de longa duração persista ao longo dos dias, processos subjacentes parecem ser requeridos, dentre estes mecanismos, destacam-se o aumento dos níveis de noradrenalina e dopamina no hipocampo. Estudos prévios demonstram que a persistência da memória de reconhecimento (usualmente utilizada para reconhecer objetos, pessoas e distinguir o que é conhecido ou não) é dependente da ativação de receptores beta-adrenérgicos e dopaminérgicos D1/D5 no hipocampo. Acredita-se que o aumento destes neurotransmissores module a consolidação do aprendizado, favorecendo a sua manutenção e persistência ao longo do tempo. Tendo em vista que o locus coeruleus (LC) é uma região do cérebro que está fortemente envolvida na liberação de noradrenalina e dopamina, principalmente para o hipocampo, é possível que esta região esteja ativamente envolvida sobre o processo de modulação da persistência da memória. O objetivo de nosso estudo foi investigar o requerimento do LC para a consolidação e persistência da memória de reconhecimento de objetos (RO) em ratos. Para este estudo nós utilizamos ratos Wistar machos adultos (n = 7-10/grupo). Todos os protocolos foram aprovados pelo CEUA/Unipampa (029/2021). Inicialmente, os animais foram submetidos à cirurgia estereotáxica para colocação de cânulas guias na região LC (-9,7; ±1,3, -7,0 mm). Após sua recuperação, os animais passaram pelo protocolo da tarefa de RO, que consiste em 4 dias de habituação ao aparato (20 minutos/dia de exploração da arena 50 x 50 x 50 cm), uma sessão de treino (para a exploração durante 5 minutos de dois objetos novos e diferentes A e B, inseridos na arena) e sessões de teste (para a exploração durante 5 minutos de um objeto familiar e um novo A e C; A e D; ou B e E). Trinta minutos após a sessão de treino no RO, os animais receberam a infusão nas cânulas guias de veículo (salina, 0,5μL/lado), muscimol (agonista gabaérgico, para inibir a região-alvo; 0,1μg/μL, 0,5 μL/lado) ou N-metil D-Aspartato (NMDA; um agonista glutamatérgico, para estimular a região-alvo; 0,1μg/μL, 0,5 μL/lado). Os testes na tarefa de RO foram conduzidos 24 horas, 7 e 14 dias após o treino, para avaliar a consolidação e persistência da memória. Diferentes combinações de objetos foram utilizadas durante as sessões (acima nós utilizamos letras para diferenciar cada objeto). O tempo de exploração dos objetos na tarefa de RO foi convertido em porcentagem do tempo total de exploração, e foi realizado um teste t de uma amostra para comparar a porcentagem do tempo total de exploração para cada objeto com uma média teórica (50%). O nível de significância considerado neste estudo foi de P ≤ 0,05. Na sessão de treino, todos os animais exploraram os dois novos objetos por uma porcentagem aproximada a 50% do tempo total de exploração (veículo, P = 0,2361; muscimol, P = 0,9986; NMDA, P = 0,2086). Em relação a consolidação da memória, testada 24 horas após o treino no RO, os animais que receberam veículo no LC exploraram significativamente mais do que 50% do tempo total de exploração o novo objeto, demonstrando que houve consolidação da memória (P = 0,0156). Isto também ocorreu com os animais que receberam NMDA 30 minutos após o treino no RO (P = 0,0018). No entanto, os animais que receberam muscimol não exibiram a consolidação da memória, já que o tempo de exploração para os objetos não diferiu de uma média teórica de 50% (P = 0,3241). A partir destes resultados, observamos que a inibição do LC 30 minutos após o aprendizado compromete a consolidação da memória de RO. Quanto à persistência da memória, avaliada 7 e 14 dias após o treino, os animais do grupo veículo exploraram de forma similar os objetos, não distinguindo os novos objetos dos previamente explorados, exibindo, portanto, um esquecimento fisiológico (P = 0,1894, no teste de 7 dias; P = 0,1010, no teste de 14 dias). Os animais que receberam muscimol também exploraram um tempo similar ambos os objetos novo e o familiar (P = 0,6257, no teste de 7 dias; P = 0,4932, no teste 14 dias). Em contraste, os animais que tiveram o LC estimulado por NMDA lembraram do objeto familiar nos testes de 7 e 14 dias após o treino, quando exploraram significativamente mais de 50% do tempo total de exploração o novo objeto (P = 0,0161, no teste de 7 dias; P = 0,0003, no teste de 14 dias). Nossos resultados demonstram que o LC é requerido para a consolidação da memória de RO e que sua estimulação após um aprendizado é capaz de promover a persistência da memória por pelo menos 14 dias.Downloads
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Publicado
2022-11-23
Como Citar
TAMARA LEDESMA DE MATOS, H.; HUR SOUTO DAS NEVES, B.; SALGADO CARRAZONI, G.; CAROLINA DE SOUZA DA ROSA, A.; BILLIG MELLO CARPES, P.; RAMIRES LIMA, K. A ESTIMULAÇÃO DO LOCUS COERULEUS APÓS O APRENDIZADO PROMOVE A PERSISTÊNCIA DA MEMÓRIA DE RECONHECIMENTO DE OBJETOS EM RATOS. Anais do Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão, v. 2, n. 14, 23 nov. 2022.
Seção
Artigos