ALTERAÇÕES ELETROCARDIOGRÁFICAS PÓS INTOXICAÇÃO POR CANNABIS SPP. EM SPITZ ALEMÃO
Rótulo
cannabinoide, componente, tóxico, eletrocardiograma, holter
Resumo
O gênero Cannabis spp. compreende três das primeiras plantas domesticadas pelo homem, e bastante pesquisa a respeito delas está sendo desenvolvida. Nas folhas e flores da maconha, seu nome popular, há cannabinoides, capazes de interagir com os receptores do sistema endocannabinoide e outros receptores presentes no organismo de mamíferos. Estes contam com o componente psicotrópico delta-9-tetrahidrocannabinol (delta-9-THC), o qual é potencialmente tóxico e atua inibindo ou estimulando neurotransmissores. A planta também contém cannabidiol (CBD), seu principal componente, o qual possui ação hipotensora. A intoxicação por Cannabis spp. está entre uma das mais comuns em cães, visto que esses possuem número superior de receptores cannabinoides no organismo, e ela pode ocorrer por ingestão de folhas e flores ou produtos derivados ou através da inalação da fumaça. Os sinais clínicos da intoxicação por maconha em cães se manifestam cerca de 30 a 60 minutos após a exposição. Eles aparecem dependendo do tempo de exposição e da dose, e já foram relatados agitação ou depressão, ataxia, midríase, hipersensibilidade ao som, hiperestesia, sialorreia, espasmos, bradicardia e estado de obnubilação. Na literatura, o diagnóstico para a intoxicação por Cannabis spp. consiste em testes de triagem, detectando metabólitos do THC. Porém, devido ao fato de a degradação do THC no organismo de cães originar diversos outros metabólitos que não os detectáveis pelo teste, esse se torna pouco confiável. Então, na veterinária, o diagnóstico é geralmente baseado no histórico clínico e nos exames físicos, clínicos e complementares. O tratamento visa fornecer suporte ao paciente e reduzir a absorção dos componentes tóxicos pelo organismo. Nos casos de inalação, oxigênioterapia e fluidoterapia devem ser empregados, além do monitoramento dos padrões vitais. Administração endovenosa de dexametasona também é pertinente, a fim de reduzir a inflamação das vias aéreas. Em relação à hipotermia, controle da temperatura com colchões térmicos e cobertas pode ser realizado. Ainda, o uso de benzodiazepínicos também se demonstrou eficaz para melhorar o prognóstico do quadro clínico. O objetivo desse trabalho consiste em relatar intoxicação em um cão da raça Spitz Alemão de 4 meses de idade por Cannabis spp., evidenciando os achados clínicos e trazendo informações pertinentes a respeito do diagnóstico e tratamento. O paciente, de 4 kg, deu entrada na clínica particular pois apresentava hipotermia (36 graus celsius), bradicardia e bradipneia, e ectopias ventriculares ao eletrocardiograma (ECG) realizado na consulta. Para chegar a um diagnóstico frente a esses sintomas, com a suspeita de cardiopatia, foram requisitados exames complementares e ultrassom, descartando outros acometimentos. Salienta-se a importância de ter conhecimento do histórico clínico do paciente, visto que apenas 2 dias após a consulta os tutores relataram que o animal havia inalado fumaça de Cannabis spp., usada recreativamente. Decorrente da presença de ectopias ventriculares durante o ECG, realizado poucas horas após a exposição, foi requisitado também um exame de Holter para avaliar a atividade elétrica do coração e suas variações. Tal exame foi realizado 3 dias após a consulta, e não acusou ectopias ventriculares, indicativo de que foram provocadas pela ação dos componentes da planta. Depressão do parâmetro ST, pausas irregulares, ritmo sinusal irregular, distúrbio da condução intraventricular e outras alterações também foram identificadas, no entanto, cardiopatias congênitas foram descartadas. Respostas cardiovasculares ao THC e CBD são esperadas em decorrência da redução da resistência vascular, sendo mediadas pelo sistema nervoso autônomo. Achados recentes mostraram que receptores cannabinoides humanos participam na regulação da resposta cardíaca, porém quando o coração é exposto a quantidades exacerbadas, como é recorrente em casos envolvendo cães, um descontrole está previsto, e se manifesta como alterações nos parâmetros cardíacos, indicados no exame de holter. Como descartamos o possível diagnóstico diferencial para o quadro, que são cardiopatias congênitas, podemos associar os achados aos efeitos provocados pela Cannabis spp. Após 3 dias de internação, provido de tratamentos de suporte, o animal teve alta. Conclui-se exprimindo a importância do conhecimento a respeito das plantas desse gênero e seus efeitos, sendo necessário também entender o papel dos receptores para tais substâncias no organismo e como componentes como o THC e CBD podem afetar cães, principais pacientes desse acometimento na veterinária. Saber métodos eficazes de diagnóstico e terapia também são imprescindíveis, visto que, para melhorar o prognóstico, esses devem ser realizados da forma mais rápida possível. Por fim, conscientizar os tutores a respeito dos perigos da exposição de cães e outros animais à maconha é pertinente, para que o acesso seja cada vez mais restrito, a fim de combater a intoxicação.Downloads
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Publicado
2022-11-23
Como Citar
VANN, T.; PINTO CARDOSO, A.; MARTINS, B.; PRISCILA CORREIA COSTA, P. ALTERAÇÕES ELETROCARDIOGRÁFICAS PÓS INTOXICAÇÃO POR CANNABIS SPP. EM SPITZ ALEMÃO. Anais do Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão, v. 2, n. 14, 23 nov. 2022.
Seção
Artigos