REAÇÃO TRANSFUSIONAL APÓS TRANSFUSÃO SANGUÍNEA COM BOLSA ESTOCADA HÁ MAIS DE 90 DIAS EM CÃO – RELATO DE CASO

  • Kássia Martins Machado
  • Thaís Fasolo Sobreira
  • Fernanda Horstmann Risso
  • Natália Horstmann Risso
  • Fernanda Porcela dos Santos
Rótulo transfusão, sanguínea, lesões, estocagem, hemólise, aguda

Resumo

A transfusão sanguínea teve início no século XX na medicina humana e teve implementação na medicina veterinária nos anos 1980, onde há evolução nas pesquisas até os dias atuais. A prática é indicada em condições de saúde como anemias, hemorragias, hipoproteinemia e coagulopatias. As reações transfusionais podem ser classificadas com base na etiologia (imunológica/não imunológica), período de tempo (aguda/tardia) e nos sinais clínicos (origem febril não hemolítica/reações respiratórias/reações alérgicas/reações hemolíticas/reações sorológicas tardias). O objetivo deste trabalho é relatar o caso de uma reação transfusional com bolsa estocada há mais de 90 dias em um canino. Foi atendida em um Centro Veterinário em Santana do Livramento/RS um canino, fêmea, da raça Spitz Alemão, seis anos de idade. A paciente foi encaminhada por uma clínica parceira, com histórico de ter sido submetida a OVH eletiva com hemorragia transcirúrgica, em consequência, foi realizada transfusão sanguínea com bolsa de sangue estocada por mais de 90 dias. Ao exame físico a paciente apresentou taquicardia (FC 190 bpm), 39,2°C de temperatura retal, mucosas pálidas e levemente ictéricas, TPC 3 segundos, pulso femoral fraco, PAS de 90 mmHg (PAS não invasiva). Foi instaurada fluidoterapia com RL (10 mL/dia, IV), administração de hidrocortisona (50 mg/kg, IV), dipirona (25 mg/kg, IV) ambas em dose única. Solicitados: hemograma completo, bioquímico (ALT, bilirrubinas (BI/BD/BT), creatinina, FA e ureia), urinálise e Ultrassom abdominal. Durante o primeiro dia a paciente apresentava-se apática, temperatura corporal 38,9-39,6°C, oligúrica (DU 0,6 ml/kg/h), com urina de coloração amarronzada, dor à palpação abdominal, mucosas pálidas/ictéricas e hiporéxica. No hemograma: anemia normocítica normocrômica não regenerativa [Ht: 30% (VR: 37-55%), VCM: 70 fL (VR: 60-77 fL), CHCM: 36% (VR: 31-35%)], com demais parâmetros dentre os valores de referência. Ao bioquímico: elevação nos níveis de creatinina [2,3 mg/dL (VR: 0,5-1,5 mg/dL)], ureia [179 mg/dL (VR: 21,4-59,92 mg/dL)] e FA [468 U/I (VR: 20-256U/l)]. Na urinálise: proteinúria (++), glicosúria (++) e bilirrubinúria (++); presença de hemácias (4-15 p/CGA), leucócitos (0-5 p/CGA), células de transição (0-2 p/CGA) e renais ( 0-1 p/CGA). A ultrassonografia abdominal evidenciou vesícula biliar com conteúdo compatível com colestase/colecistite. Foi instaurado tratamento de suporte com prednisolona (1 mg/kg, BID), dipirona (25 mg/kg, TID), nutriSAME® (20 mg/kg, SID), Silimarina (50 mg/kg, SID) e tramadol (2 mg/kg, QID). No segundo dia a paciente apresentou quadros de êmese, foi repetido o hemograma que evidenciou: leucocitose [31,50 mil/mm³ (VR: 6-17 mil/mm³)] por neutrofilia com desvio à esquerda regenerativo [NS: 23.225/mm³ (VR: 3.000-11.500/mm³), NB: 1 mil/mm³ (VR: 0-300/mm³)], sendo adicionado a prescrição amoxicilina com clavulanato (12,5 mg/kg, BID) e ondansetrona (0,5 mg/kg, TID). No terceiro dia, a paciente demonstrou melhora do quadro clínico, permanecendo apenas febril, e alimentando-se de forma espontânea. Ao hemograma: eritrograma permanecendo com a anemia normocítica normocrômica (Ht: 33%; VCM: 70 fL; CHCM: 33%), aumento da PPT (8,5 g/dL) e leucocitose mais pronunciada que o dia anterior (41,20 mil/mm³). No exame bioquímico: melhora dos parâmetros de creatinina (1,7 mg/dL), ureia (141 mg/dL) e FA (393 U/I). Por razões econômicas, o tutor optou por alta revelia após 3 dias de internação, e a paciente recebeu tratamento de suporte de forma domiciliar com prednisolona (1 mg/kg, BID), nutriSAME® (20 mg/kg, SID), dipirona (25 mg/kg, BID) e amoxicilina com clavulanato (12,5 mg/kg, BID) durante 10 dias. No retorno, após 3 dias da alta, todos os parâmetros fisiológicos encontravam-se dentro da normalidade, exceto mucosas levemente ictéricas. Ao hemograma e bioquímico, a paciente apresentava as mesmas alterações, porém, com evolução positiva quando comparada aos exames anteriores. Após 30 dias, todos os parâmetros clínicos reavaliados estavam dentro da normalidade e foi solicitado retorno para avaliação de possíveis sequelas. Seis meses após, todos os exames apresentaram resultados dentro dos valores de referência. Conclui-se que com a realização do teste de compatibilidade sanguínea previamente à transfusão, é possível prever reações transfusionais, bem como, a minimização de riscos ao receptor através da verificação da validade da bolsa estocada, tendo em vista que o sangue total refrigerado deve ser armazenado por no máximo 35 dias. Devido a confiança entre as equipes clínicas foi possível diagnosticar a reação transfusional hemolítica aguda, estabilizar e tratar a paciente. O tratamento mostrou-se efetivo, visto que a paciente não apresentou sequelas.

Downloads

Não há dados estatísticos.
Publicado
2022-11-23
Como Citar
MARTINS MACHADO, K.; FASOLO SOBREIRA, T.; HORSTMANN RISSO, F.; HORSTMANN RISSO, N.; PORCELA DOS SANTOS, F. REAÇÃO TRANSFUSIONAL APÓS TRANSFUSÃO SANGUÍNEA COM BOLSA ESTOCADA HÁ MAIS DE 90 DIAS EM CÃO – RELATO DE CASO. Anais do Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão, v. 2, n. 14, 23 nov. 2022.