PRESENÇA DE ESCHERICHIA COLI PRODUTORA DE TOXINA DE SHIGA (STEC) EM ABATEDOUROS FRIGORÍFICOS DE PELOTAS, RIO GRANDE DO SUL
Rótulo
DTHA, Stx, abate, bovino
Resumo
Escherichia coli é uma bactéria Gram negativa, em formato de bastonetes curtos, naturalmente encontrada na microbiota de seres humanos e animais. No entanto, algumas cepas apresentam potencial patogênico. Segundo o Ministério da Saúde, E. coli está entre os principais agentes etiológicos de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar (DTHA), sendo responsável por 29,6% dos surtos no Brasil durante o período de 2012 a 2021. Dentre os patotipos envolvidos com DTHA, Escherichia coli produtora de toxina de Shiga (STEC) é um importante enteropatógeno com sintomatologia variando de diarreia aquosa até quadros de colite hemorrágica, que podem evoluir para Síndrome Hemolítica Urêmica (SHU) e Púrpura Trombocitopênica Trombótica (PTT), podendo levar à falência renal e óbito. A patogenicidade de STEC é mediada pela produção da toxina de Shiga (Stx), codificada pelos genes stx1 e stx2, localizados na Ilha de Patogenicidade LEE (locus of enterocyte effacement), bem como outros genes capazes de codificar fatores de virulência. A produção de Stx é necessária para causar os sintomas, bem como para as complicações potencialmente fatais da infecção por STEC. Os bovinos adultos são considerados portadores assintomáticos de STEC, devido à ausência de receptores para a toxina de Shiga no intestino. A contaminação da carne bovina por STEC ocorre durante o processo de abate, decorrente do contato direto de conteúdo intestinal com a carcaça, ou ainda, de forma indireta. Objetivo do presente estudo foi isolar E. coli produtora de toxina de Shiga (STEC) de fezes e carcaças bovinas, provenientes de abatedouros frigoríficos de Pelotas/RS. Um total de dez visitas foram realizadas durante o período de novembro de 2021 a agosto de 2022 em dois abatedouros frigoríficos (A e B) de bovinos inspecionados pela Divisão de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA) da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul, na cidade de Pelotas/RS. Cem carcaças foram amostradas em quatro pontos distintos do abate: couro após a sangria (P1), fezes antes da oclusão do reto (P2), carcaça após evisceração (P3) e carcaça após lavagem final (P4), totalizando 400 amostras. A amostragem foi feita na superfície das carcaças em uma área de 400 cm2, com auxílio de esponja vegetal previamente hidratada com solução salina peptonada (0,85% e 0,1%). As fezes foram coletadas com swab esterilizado e transportadas em meio Cary Blair (ABSORVE-CRAL®). Para detecção de STEC foi utilizado o método ISO 13.136, com modificações. As amostras foram semeadas em placas de Petri contendo ágar MacConkey Sorbitol (OXOID®) suplementado com cefixima (0,05 mg/mL) e telurito (2,5 mg/mL) (CT-SMAC) e incubadas a 37 ºC por 24 horas. As placas foram examinadas e colônias fermentadoras e não fermentadoras de sorbitol foram selecionadas para identificação bioquímica através dos testes de Citrato, Indol, Vermelho de Metila (VM) e Voges-Proskauer (VP). Os isolados confirmados como E. coli nos testes bioquímicos foram submetidos à extração de DNA genômico e análise de PCR, para identificação do gene stx1 e stx2, os quais codificam para produção da toxina de Shiga 1 (Stx1) e toxina de Shiga 2 (Stx2), respectivamente. Escherichia coli presuntiva de STEC foi isolada em 53 de 100 carcaças bovinas amostradas, sendo 11% no couro após a sangria (P1), 40% em fezes após a oclusão do reto (P2), 7% na carcaça após a evisceração (P3) e 5% na carcaça após a lavagem final (P4). Três carcaças apresentaram E. coli no couro e nas fezes, concomitantemente, uma nas fezes e após a evisceração, uma no couro, após evisceração e após a lavagem, uma nas fezes e após a lavagem. Nenhum dos isolados apresentou o gene stx1. No entanto, oito isolados provenientes de cinco carcaças apresentaram o gene stx2. No estudo de Loiko et al. (2016) o couro bovino logo após a sangria foi identificado como um dos pontos com maior contaminação por E. coli O157:H7, com 77,27% de positividade, seguido da carcaça antes da evisceração (18,18%) e carcaça logo após a divisão em meias carcaças (4,55%). Sereno (2021) obteve o maior percentual de contaminação por E. coli no couro (12,8%) e nas fezes (87,2%), o que vai ao encontro dos resultados obtidos no presente estudo. O principal fator de virulência de STEC é a produção de Stx, a qual é codificada pelos genes stx1 ou stx2. O gene stx2 tem sido relatado como o gene mais encontrado entre isolados de STEC, além de ser o gene mais envolvido com complicações graves, como SHU. Conclui-se que E. coli foi mais frequente no couro após a sangria e nas fezes antes da oclusão do reto durante o abate de bovinos em dois abatedouros-frigoríficos de Pelotas/RS, e dentre os isolados, foi possível observar a presença de estirpes patogênicas de STEC.Downloads
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Publicado
2022-11-23
Como Citar
CUNHA, A.; VOLZ LOPES, G. PRESENÇA DE ESCHERICHIA COLI PRODUTORA DE TOXINA DE SHIGA (STEC) EM ABATEDOUROS FRIGORÍFICOS DE PELOTAS, RIO GRANDE DO SUL. Anais do Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão, v. 2, n. 14, 23 nov. 2022.
Seção
Artigos